“A vida de freelancer não é um conto de fadas”

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Henrique Pochmann, autor do blog Aparelho Elétrico, ressalta a importância de mostrar os altos e baixos da vida de freelancer

“Já trabalhei como designer gráfico, como diretor de arte, como redator, como analista de SEO, como analista de redes sociais, como desenvolvedor web, designer digital…” Essa numerosa lista de atividades faz parte do portfólio do empreendedor Henrique Pochmann, que investe na vida de freelancer.

Aos 34 anos ele já passou por agências de publicidade, provedores de internet, além de já ter se aventurado em um negócio próprio e agora aplica seus conhecimentos em marketing digital também no blog Aparelho Elétrico, dedicado aos temas relacionados ao mercado freelance.

Profissional freelancer em tempo integral, Henrique falou sobre o lado vantajoso, que muitos buscam, e o mais obscuro – que muitas vezes é omitido – dessa modalidade de trabalho.

Freelancers: quem são eles e como se tornar um?

Henrique Pochmann comanda o Aparelho Elétrico e utiliza toda bagagem de mais de dez anos de carreira como freelancer para dar dicas e informações importantes aos leitores que buscam seguir o mesmo caminho / foto: acervo pessoal
Henrique Pochmann comanda o Aparelho Elétrico e utiliza toda bagagem de mais de dez anos de carreira como freelancer para dar dicas e informações importantes aos leitores que buscam seguir o mesmo caminho / foto: acervo pessoal

A área de TI possui uma alta demanda mundial, de acordo com o portal InfoMoney. O site ainda inclui a tradução e a comunicação na lista das atividades mais procuradas no mercado freelance desde o ano de 2012.

Henrique faz parte dessa movimentação há aproximadamente 15 anos, quando começou a trabalhar com web e os jobs começaram a pipocar.

Foi a criação de um website que trouxe noções de organização e execução de projetos por conta própria para a vida profissional dele.

“A partir disso fui pulando de emprego em emprego e, em paralelo, sempre complementava a renda criando um site aqui, outro ali, para os clientes que apareciam.”

Somente em 2008, quando trabalhava no departamento de marketing de um provedor de internet, é que o freelance surgiu como uma possibilidade de atividade integral para Henrique, que tomou coragem e sugeriu ao chefe um atendimento autônomo. Ele ouviu um ‘sim’, mas infelizmente não deu certo.

Com uma proposta comercial ruim veio a sobrecarga de trabalho, o que praticamente eliminou a entrada de novos clientes e trouxe a desmotivação.

O que ocorreu com o empresário nesse início de carreira serve de exemplo para profissionais que optam por ingressar nesse mercado. Por isso, ele dá a dica:

Leia muito sobre finanças e negócios. Agora você vai precisar pensar mais como empresário e menos como funcionário.”

Henrique voltou ao emprego fixo, mas ainda buscava autonomia no trabalho e, em 2010, abriu um estúdio de comunicação com mais dois sócios, que manteve por três anos. Só após essa experiência foi possível ter uma vida de freelancer em tempo integral, pois já havia mais segurança.

Foi uma longa jornada para o empresário, mas esse percurso parece ser menor daqui para frente. Com 11,4 milhões de brasileiros desempregados, o freelance tem sido uma forte tendência para movimentar a renda dos trabalhadores. Principalmente por ser uma atuação que pode ser executada em casa.

“Trabalhar em casa hoje já está começando a ser mais ‘socialmente aceitável’. Mas ainda tem muito que melhorar.”

Com um cenário de crescimento, o universo dos freelas tem vantagens e desvantagens para se explorar e aprimorar, respectivamente.

Vantagens: flexibilidade e oportunidades

Para Henrique, a principal vantagem do trabalho freelance é a flexibilidade de horário, que permite ir a lugares como shopping, banco, ou até mesmo ao cinema em períodos alternativos. Esse, inclusive, é o motivo que o levou a investir na carreira como freelancer, já que ele gosta de criar e levar adiante projetos muito variados.

A produtividade também sai ganhando.

“Você não precisa mais ficar fingindo ser produtivo quando não está com cabeça para trabalhar.”

Outro ponto positivo é a possibilidade de fechar diversos projetos em um mesmo mês e poder aumentar a renda consideravelmente, o que difere da experiência que se tem com o emprego fixo, o qual pode ter uma ampliação de atividades, mas manter o mesmo salário ao final de 30 dias.

O empresário usou como exemplo sua própria vivência em agências publicitárias, onde normalmente não era pago pela hora extra. Nesse período, ele teve a oportunidade de observar que, a cada promoção de cargos, os salários aumentavam, mas os profissionais também se aproximavam de uma possível demissão, por conta do alto custo que representavam.

Morador de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ele ainda ressalta mais um benefício:

“Se um cliente teu resolve te abandonar, tu tem outros clientes e oportunidades de trabalho“, por exemplo.

Isso porque, como ele mesmo destaca, o freelancer possui uma renda variável, mas que não vem sempre da mesma fonte, ou seja, há sempre como buscar outras oportunidades e montar uma boa carteira de clientes à medida que o profissional faz avanços na carreira.

Vale lembrar que para isso ocorrer é preciso ser muito pró-ativo e investir na dica de Henrique e ter conhecimento sobre finanças e negócios, o que pode ser mais complicado para alguém da área de criação, por exemplo, mas não impossível.

Por fim, criar seu próprio método de organização é algo bastante produtivo e positivo. Inclusive, ele criou o Freelancer Doc Box, um ‘combo’ de planilhas perfeitas para manter a rotina em ordem, com itens como modelos de contrato e proposta de trabalho, e arquivos Excel para fluxo de caixa e cadastro de clientes e fornecedores.

“Já usei vários softwares e aplicativos, mas eles, normalmente, são desenvolvidos para um perfil muito diverso de usuários. Então para mim, as planilhas que criei é o melhor método, até agora”, explica.

Desvantagens: preconceito e deslumbramento

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Embora esse formato de trabalho tenha crescido e caído no gosto de muitos profissionais, há alguns pontos que merecem atenção.

O deslumbramento por uma vida com extrema liberdade, em que se pode montar uma agenda flexível e até mesmo viajar pelo mundo, ao exemplo dos chamados nômades digitais, seduz os trabalhadores que atuam em um emprego fixo, com atividades pré-determinadas e horário de entrada e saída do escritório.

“Esse formato tem atraído muitos aventureiros (risos). Eles chegam motivados por essa história do ‘trabalhe de qualquer lugar do mundo sendo freelancer‘, o que acho incrível, mas não é tão simples quanto fazem parecer. A vida de freelancer não é um conto de fadas. E isso ninguém faz questão de contar.”

Henrique analisa que esse cenário faz com que o profissional muitas vezes foque nas viagens e não no trabalho independente. Essa atitude pode resultar na aceitação de um job a qualquer custo, sem o comprometimento necessário, o que gera estresse tanto para o freelancer, quanto para o cliente.

Então o “sonho vira um pesadelo” e ainda pode reforçar um preconceito que, segundo o empresário, ainda existe: para muitos, essa modalidade  “é coisa de quem não gosta de trabalhar“, ou ainda que esse profissional é “um cara que faz bico, sem muito respaldo, ou responsabilidade.”

E assim o mercado é prejudicado de uma forma geral. Nesse sentido, a responsabilidade dos freelancers é grande, pois é preciso se posicionar de forma adequada no mercado, para evitar o desrespeito e conquistar a confiança e autoridade diante dos contratantes.

Essa instabilidade no mercado ainda pode refletir em casa.

“Minha mãe certamente não respira aliviada como a mãe de um médico, engenheiro ou advogado. Ela sabe que esse formato de trabalho é cheio de altos e baixos.”

Isso porque sua família sempre focou em estabilidade e o estimulou a prestar concursos públicos, por exemplo, algo recorrente nos lares brasileiros. Mesmo assim, sua mãe compreende que o trabalho freelance traz mais satisfação para ele.

Afinal, o apoio da família, somado a persistência em seguir carreira como freelancer e o zelo em entregar serviços de qualidade ajuda a tornar essa modalidade possível.

Mesmo diante dessas desvantagens, há um crescimento expressivo de freelancers no mercado, uma forma corajosa e, de certa forma, empreendedora de encarar a crise e o desemprego.

E então, quer entrar de vez nesse universo? Vale a pena visitar o Aparelho Elétrico e conferir algumas dicas, e também ficar atento ao Office of the Day para saber as novidades do mercado.

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